domingo, 3 de setembro de 2006

Cametáforas 4

Dois anos depois de ter ido trabalhar na casa do Dr. Fonseca, Benedita andava desiludida com a vida na cidade grande, estava pensando em voltar para Cametá. No final de semana ela sempre conversa pelo telefone com a sua amiga Mundica.
- O Dr. Fonseca é muito mão-de-mucura-assada, num abre a mão nem pra dá adeus.
- Olha, Bené!... imprego tá difícil...
- Eu sei, minha mana, purisso qui inda tô aturando, mas já tô cuíra pra vortá...
- Mas purquê, então?
- o homi vive amuado, reclama di tudo... estordia me mandu cumprá um quilo de figo. eu cumprei, perparei os bife, aí ele veio me dizê qui era pra cumprá fruta.
- Esse pessuá num se resorve.
- Pusé... ele vive mi ralhando... deve ser pur caso du imprego dele... ele trabalha pru guverno, é Fiscar da receita, mas num deve de sê muito bom ficar fiscalizando receita u dia tudu... inda mas cum aquelas letra di médicu... inté eu ficava aperriada.
- Axi!
- Ontonte o filho dele chegu de carru nuvu... desses di bacana... com roda de maionese, faror de pilha, teto ensolarado e tudu quanto é pavulagem...
- Isso é pra quem tem dinhero...
- Aí é quistá, Mundica... discubri que isso tudo é fachada. Acho que nem casa aqui do grinvile é deles, purque tudo mês ele tem que pagar prum tar de Cínico. Deve ser aluguer... O carro é duma tar de Mercedes e até a rupa da patrua é dum tar de Armani.
- Mas, quando?
- Tu te falando... é tudu imprestado, até a televisão tem que pagar tudo mês... parece qui é dum Cabo...
- É triste aquelazinha!
- Mas eles gostam mesmo e de aparecer, utro dia ele tava falando pra um amigo qui ele tinha um Picasso...
- E num tem?
- Mas quando, Manazinha!...é gitinho!"

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