sexta-feira, 24 de novembro de 2006

ACREDITAR E AGIR

Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino.
Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro.
O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, observou que eram mesmo duas palavras. Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro agir.
Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.
Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem.
Então o barqueiro disse ao viajante: - Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir.
- Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com a mesma intensidade agir e acreditar.

terça-feira, 7 de novembro de 2006




No fundo, no fundo...

Um bom exemplo sobre o relativismo de interpretação fotográfica e a polissemia das imagens é esta foto. Para a grande maioria das pessoas, ela passa uma imagem negativa, "o fundo do poço" é inconscientemente relacionado a "dificuldade extrema". Ocorre que a fotografia, antes de tudo, é um testemunho. Quando se aponta a câmara para algo ou alguém, constrói-se um significado, faz-se uma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história, cuja interpretação e leitura, não estão submetida apenas a subjetividade de quem lê, mas, também é determinada pelas relações sócio-históricas que lhe deram origem.
Ler e decodificar uma fotografia sem levar em conta certos detalhes de sua produção e sua materialidade, termina por ser apenas uma leitura arbitrária e pessoal, que, pouco ou nada tem haver com o documento fotográfico.

Para não morrerem de curiosidade, a foto em questão foi tirada numa comunidade carente, que não dispõe de serviços de água, esgoto, iluminação, etc. O poço foi feito em regime de mutirão, para atender a várias casas e sua conclusão foi muito comemorada. Repare que apesar de estar "no fundo do poço" o rapaz não está com cara de derrotado... Uma metáfora visual da dificuldade e superação.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006




A MORTE ABSOLUTA
Manuel Bandeira

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.