terça-feira, 27 de maio de 2008

MAPARÁ, PATRIMÔNIO CULTURAL DE CAMETÁ



Cametá, “papamapará”. Assim se mexia com o cametaense até a década de 1970. Em 1984, a hidrelétrica de Tucuruí foi inaugurada e a água do rio Tocantins sofreu enormes mutações, como ser estrangulada, com impedimento à navegação à jusante e à montante da barragem e outras mudanças de ordem sócio-ambientais que alteraram o modo de vida do ribeirinho que viu a transformação: água ter cor, sabor e odor. Mudou de cor, o sabor e o cheiro, desagradáveis, muito limo, piolho d’água e o areal que está tornando praia o que antes era água. Um desastre ecológico que tem derrubado o cais da cidade de Cametá até hoje sem conserto.
E o mapará que bamburrava nas águas tocantinas da área de Cametá, sumiu e o pouco que se encontra, concentrou-se no lago de Tucuruí que nunca teve tradição piscosa do tipo mapará (hypophtholuns edenatus) .
Mas, o cametaense continuou convivendo com a fama de ser papamapará ou de que “era papamapará” como passei a usar nos meus livros.
Bem lentamente começam a aparecer as camboas com o mapará cametaense, o pescador vê, com emoção o brilho prateado entre as canoas no bloqueio. Há um aceno de esperança nesse meio de vida do caboclo mais consciente de sua ação no mundo que precisa de equilibrio sustentável nessas manejadas políticas públicas impostas pelo neoliberalismo econômico que só olha o lucro do capital, o homem da Amazônia se ferrando, feio.
Por isso, venho, antes que o mapará desapareça no mercado exportador, antes que algum aventureiro de outras plagas se aposse e aí seja tarde demais, na condição de cametaense, reivindicar seja o mapará reconhecido como patrimônio cultural de Cametá,local tradicional onde ainda se pode saborear tão gostoso prato, um petisco que pode e deve ser servido de todo tipo e jeito,dentre os quais: cosido , frito, moqueado , no lixo ou de barriga cheia, seco, com pirão de açaí, com feijão, no quitim, como café da manhã, no almoço ou no jantar, com farinha d’água ou seca, com pimenta, com limão, no tucupi, o lanzudo se presta até para adornar pizza e pode ser feito no caldo da vinagreira, com maxixe, limão azedo, na tala, assado e mil outros modo.
Você, leitor, sabe porque todo cametaense é inteligente? Porque come cabeça de mapará, dizia o escritor conterrâneo Victor Tamer e corroborado pelo poeta Alberto Mocbel, mestro Cupijó pelos famosos artistas: Natal Silva, Kim Marques, Ivan Cardoso, médicos Luis Malcher, Herundino Moreira e pelos lingüistas Danuzio Pompeu e Doriedson Rodrigues e tantos outros filhos de Cametá.
Quer comer mapará com açaí, farinha e aviú ? Vá à Cametá à festa de são João,no próximo mês de junho e se empanturre de tudo o quanto tem de gostoso na cozinha cametauara e ajude a tornar o mapará patrimônio cultural de Cametá, com pitiú e tudo o mais.

Salomão Larêdo, advogado, escritor e jornalista
(Publicado no Jornal O Liberal , edição do dia 26 de maio de 2008 – Belém – Pará )