terça-feira, 7 de novembro de 2006




No fundo, no fundo...

Um bom exemplo sobre o relativismo de interpretação fotográfica e a polissemia das imagens é esta foto. Para a grande maioria das pessoas, ela passa uma imagem negativa, "o fundo do poço" é inconscientemente relacionado a "dificuldade extrema". Ocorre que a fotografia, antes de tudo, é um testemunho. Quando se aponta a câmara para algo ou alguém, constrói-se um significado, faz-se uma escolha, seleciona-se um tema e conta-se uma história, cuja interpretação e leitura, não estão submetida apenas a subjetividade de quem lê, mas, também é determinada pelas relações sócio-históricas que lhe deram origem.
Ler e decodificar uma fotografia sem levar em conta certos detalhes de sua produção e sua materialidade, termina por ser apenas uma leitura arbitrária e pessoal, que, pouco ou nada tem haver com o documento fotográfico.

Para não morrerem de curiosidade, a foto em questão foi tirada numa comunidade carente, que não dispõe de serviços de água, esgoto, iluminação, etc. O poço foi feito em regime de mutirão, para atender a várias casas e sua conclusão foi muito comemorada. Repare que apesar de estar "no fundo do poço" o rapaz não está com cara de derrotado... Uma metáfora visual da dificuldade e superação.

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